Adoro Copa, não escondo. Por isso mesmo, sempre quis ver o
Brasil como país-sede. Só não imaginava que seria nesse clima de protestos. Dias
antes da estreia dava até vergonha de falar bem do torneio.
Quando imaginava uma Copa por aqui pensava em algo diferente.
As cidades-sede seriam onde já há times da elite ou estádios bacanas, como
Campinas, Santos, Presidente Prudente. Fui bairrista demais nessa
previsão/torcida e esqueci que o pessoal do Norte, Centro-Oeste também merece
assistir ao torneio de perto.
A Copa definitivamente não é perfeita. Longe disso. Sete
anos depois do anúncio que o torneio seria por aqui alguns estádios nem estavam
prontos. A promessa de mudanças na
infraestrutura do país não foi comprida. Os estádios saíram mais caros que o
previsto o que, no mínimo, é um indício de que o valor inicial era uma
estimativa inocente.
Provavelmente eles se tornarão elefantes brancos – bonitos,
imponentes, mas sem utilidade. É grande a chance de vermos de novo o filme dos
Jogos Pan Americanos de 2007 (centros esportivos abandonados ou mesmo
destruídos). O estádio da Copa construído da região Norte, por exemplo, fica em
Manaus, sendo que Belém tem dois times rivais que lotam estádios.
Mesmo assim, acredito que os protestos contra a Copa se
perderam no caminho. O dinheiro que foi para a Copa não tinha ligação nenhuma
com os Ministérios da Saúde ou da Educação, mas se tornou verdade
inquestionável que o que se gastava com a Copa foi desviado de hospitais e
escolas.
Na verdade, se considerarmos todo o dinheiro público
investido na Copa [essa conta depende de interpretação porque boa parte da
verba vem de empréstimos de bancos estatais e o valor deve ser pago de volta]
não ultrapassa um mês do que é gasto com educação no país. Claro que
isso não anula as críticas às promessas não cumpridas.
O #NãoVaiTerCopa foi quase uma declaração de
guerra, mas não impediu o evento. Muita gente se mantem intransigente, mas
muitos deixaram as críticas de lado para apreciar o torneio, com ressalvas claro.
Torcer contra ou a favor da seleção é uma escolha pessoal.
Nacionalismo se demonstra de diversas maneiras. O patriotismo no esporte é a manifestação
mais descontraída e menos violenta de que se ama o país em que nasceu. Não
é prova de que caminhamos para um mundo melhor, mas é sim divertido.
Temos muito a aprender com a Copa. O feriado em dia de jogo
é a comprovação de que não existe mobilidade urbana. O contato com estrangeiros
em clima de festa é uma chance de mudar o turismo. O profissionalismo do esportivo europeu pode
virar um espelho. A segurança reforçada para não atrapalhar o espetáculo pode
servir de modelo.
O evento já está
rolando. Tem muito dinheiro envolvido, muitos interesses políticos e econômicos
sim, mas tem também o lado humano, no melhor sentido da coisa. A torcida, a
brincadeira, a diversão, a reunião, o lazer, o esporte. E nesse ponto que
podemos (sem obrigação) curtir a Copa, o que não significa que deixamos os
problemas do país de lado.
***Educados ou não, as vaias e os xingamentos à presidente são uma
forma de protesto. Diga-se de passagem, melhor do que promover o quebra-quebra
e partir para uma guerra sem sentido com a Polícia.