sábado, 18 de julho de 2015

Jules Bianchi (1989-2015)

O automobilismo poderia ser feito só de manobras arriscadas, ultrapassagens, belos carros e comemorações de vitórias. Infelizmente não é simples assim. Este fim de semana, um talento da Fórmula 1 perdeu a vida aos 25 anos. 

Jules Bianchi se acidentou no GP de Suzuka no ano passado e morreu neste sábado (18, pelo horário francês, sexta-feira dia 17 pelo horário de Brasília) depois de passar nove meses em coma. Eram 21 anos sem mortes de pilotos na Fórmula 1. Os dois últimos tinham sido Roland Ratzenberger e Ayrton Senna no mesmo fim de semana, em Ímola, 1994.

Era um piloto promissor. Aposta da Ferrari para as próximas temporadas e que tinha conquistado os dois únicos pontos da nanica Marussia. Foi no GP de Mônaco. Bianchi ficou em nono. O suficiente para ganhar dois pontos e garantir alguns milhões de euros para a equipe, já que uma regra da categoria premia as escuderias que pontuaram.

Alguns dias depois do acidente, entrevistei Emerson Fittipaldi num evento em Sorocaba. O tricampeão de Fórmula 1 correu numa época em que a categoria era bem mais perigosa. Nos anos 1970, dez pilotos morreram. Ele disse que dessa vez não se tratava de falta de segurança nos carros ou na pista, mas de um erro de procedimento. De fato, um guindaste não poderia estar  ao lado da pista enquanto a corrida seguia normalmente. O veículo retirava o carro do piloto Adrian Sutil e o pior que poderia acontecer, aconteceu. Bianchi escapou da pista molhada e atingiu o trator. Um erro grave num circuito que ainda não tinha registrado mortes na categoria.

Para os pilotos, a Formula 1 está muito segura do que nos anos 1990, 1980 ou 1970. Kubica sobreviveu a um acidente incrível em 2006. O capacete de Felipe Massa o salvou na Hungria em 2009. Mesmo assim não existe risco zero. Na última corrida na Alemanha, alguns centímetros separavam o carro de Alonso da cabeça de Raikkonen.  Costelas quebradas e lesões que tiram pilotos de algumas corridas são comuns num esporte em que carros passam de 300 km/h.

Apesar do intervalo sem mortes de pilotos, nesses vinte anos três fiscais de pista morreram. Em 2013, um fiscal foi atropelado justamente por um guindaste no GP do Canadá.

Assim como a morte do Senna fez a categoria repensar a segurança de pilotos, alterando o desenho dos carros, o acidente de Bianchi deve fazer a Fórmula 1 aprimorar as medidas de segurança em 
torno da pista. Em todo caso, o automobilismo é fascinante, mas nunca vai ser 100% seguro. 

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Livro: 1942 - O Brasil e a sua Guerra Quase Desconhecida

Sabe quando um bom cantor resolve se arriscar como ator, é protagonista num filme e o cara é um sucesso na frente das câmeras também? Mais ou menos o que João Barone fez. O baterista dos Paralamas do Sucesso escreveu um ótimo livro de História. Filho de um pracinha da FEB (Força Expedicionária Brasileira), e pesquisador do assunto, ele apresenta o contexto da participação brasileira na Segunda Guerra, os detalhes do envio de 25 mil brasileiros para solo italiano, estratégias adotadas no campo de batalha e o legado da expedição.

O país entrou na guerra porque nazistas atacaram embarcações brasileiras a poucos quilômetros da costa catarinense, da fluminense e da nordestina. Milhares de civis morreram. Mesmo assim houve um período de debates na sociedade, mobilizações contra e a favor do Eixo (formado pela Alemanha, Itália e Japão) e um longo período de preparação para que as tropas brasileiras finalmente entrassem na guerra em território Europeu.  

Barone revela no livro que, ao contrário do que se imagina, a FEB  teve peso decisivo para vitória dos Aliados em um dos últimos pontos de resistência alemã: os montes italianos.  

O livro traz muitas curiosidades: um conceituado aviador da força aérea Nazista, Egon Albrecht era nascido em Curitiba. Outro brasileiro, Arthur Scheibel, se alistou na Marinha Mercante dos EUA e supostamente morreu no Dia D, que marca a chegada de tropas Aliadas na Normandia em 1942. Além disso, pelos serviços prestados, dois pracinhas, tenente Apollo Miguel Rezk e cabo Marcílio Luiz Pinto receberam uma das mais importantes honrarias do Exército Americano: a medalha Silver Star.


Depois da guerra, o governo não deu o devido reconhecimento aos pracinhas. Veteranos  foram pouco aproveitados (quase dispensados) pelo Exército Brasileiro. Mesmo a sociedade acabou esquecendo essa participação. Mas os italianos não esquecem. Até hoje, numa das áreas em que o exército brasileiro lutou, é costume presentear amigos com uma lata de pêssego em caldo. O gesto repete a caridade de pracinhas, que comovidos com o sofrimento o povo italiano durante a guerra dividam essas latas com a população local.