Uma das críticas mais comuns dos últimos dias no circuito musical é essa: o excesso de bandas de “não-rock” no festival Rock in Rio. O estilo musical foi deixado de lado pela organização do evento para dar espaço a outras atrações de maior lucratividade. Esse é o argumento. Não concordo com esse tipo de visão e sou a favor da miscelânea de estilos em um evento cultural, mesmo que ele carregue uma particularidade em seu título. Além disso, não existem mais tantas bandas de rock de peso como nos anos 80 e 90 e são poucas as realmente boas que ficaram de fora este ano (a maioria da velha guarda, como AC/DC, Aerosmith e Iron Maiden).
Como assim Kate Perry, Kesha, Claudia Leite e Ivete Sangalo? No caso de Claudia Leite, aconteceram as previstas vaias do público roqueiro.
Agora me explique: o que esses roqueiros foram fazer lá? Parece meio masoquista uma pessoa ir para perto do palco para ouvir uma atração musical de um estilo que odeia apenas para ter a oportunidade de desaprovar o que já desaprovava antes. A programação foi divulgada há meses. Elas não entraram no lugar de bandas de rock. Foram lá fazer a parte delas.
Outra coisa que me desanima é ver o argumento de sempre: rock é rock. Como se fosse algo pronto e acabado em que não se pode interferir. Não. Rock não é rock. É uma porção de vários estilos: blues, jazz, country (no início) e depois pop, sertanejo, forró e seja mais o que for. Tudo é válido.
Essa ideia da mistura é válida ainda mais quando se fala no Brasil. Caetano Veloso foi vaiado em um festival porque sua banda tinha guitarra (algo antinacionalista!). O mesmo aconteceu com Raul Seixas (RAUL SEIXAS!) quando tentou concorrer em um concurso de música brasileira, porque sua música era um rock em inglês – misturado com um bailão em português (Let me sing, Let me sing).
O rock usa diversos outros estilos e ninguém reclama. Led Zeppelin buscar inspiração no reggae para compor Dyer Maker é genialidade. Claudia Leite tocar Dyer Maker é um pecado mortal? Não é por aí.
Sou roqueiro, antes de mais nada. Minhas bandas favoritas são o Guns ‘n’ Roses, Kiss, Led Zeppelin, Beatles, Titãs e outras do gênero, mas não acho que a segregação seja o caminho.
Infelizmente existe uma cultura de alguns roqueiros de desprezo pelo outro estilo musical. Não se trata de pedir para trocar a música ou desprestigiar o cantor e sim de casos de agressão e morte entre fãs de diferentes tipos de rock e de outros estilos musicais. Algo impensável.
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