Quatro dias depois de perder o comediante Chico Anysio, o humorismo brasileiro sofreu mais uma dura baixa.
Criador de frases engraçadas e filosóficas, Millôr desenhava em um traço grotesco, traduzia e criava piadas em diversos idiomas e escrevia textos irônicos e repletos de referências literárias e políticas e até publicava piadas com frases em diversos idiomas sem tradução. Buscava aquele humor da risada de canto, não da gargalhada.
Eram tantas as suas frases, que elas servem para ilustrar sua própria morte: "Morrer é uma coisa que se deve deixar sempre pra depois". Na verdade, servem para ilustrar, ironizar e atacar tudo. Até minha admiração por ele: "Como são admiráveis as pessoas que não conhecemos muito bem".
Millôr era basicamente o tradutor oficial de Shakespeare. Em plena Ditadura Militar fundou "O Pasquim" e escreveu ao lado de Flávio Rangel a peça "Liberdade, Liberdade!", que recebeu elogios do jornal The New York Times além de um carimbo de censurado de você sabe quem.
Durante as entrevistas para o meu blog Jornal do Humor, percebi o óbvio: vários humoristas e cartunistas foram influenciados por ele, como Allan Siebber, que descobriu em sua obra uma outra vertente de desenho pela frente, e Marvadão, que o tinha como mestre do calo no raciocínio de tanto filosofar.
Digamos que se Chico Anysio foi o mestre do humor na TV, Millôr foi o mestre do humor no texto escrito.
Embora tenha tido algumas passagens como locutor de rádio ou apresentador de programas de TV, o carioca ficou imortalizados por suas colunas e poemas (em um poema apresentava pessoas rolando escada abaixo com as letras do poema girando, como se fosse o movimento de queda).
Enfim, além do manual de verbetes humorísticos com suas frases (o livro Millôr Definitivo: A Bíblia do Caos), nos falta um Manual do Millôr, para entender sua importância.
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