Rush foge daquela mesmice hollywoodiana de criar heróis e
vilões ao reproduzir uma história real ligada ao esporte. Niki Lauda e James
Hunt são apresentados como dois obstinados pela vitória e como dois chatos. Uma rivalidade que ajuda a contar uma ótima história.
Hunt não se prepara para a corrida, toma porres na véspera, consome drogas e coleciona
amantes. Lauda é o cara de família, perfeccionista e racional, que não faz
questão de ser simpático com ninguém. E adora dizer que é o melhor do que todos.
Diferentemente do filme Alta Velocidade (de 2001, sobre
Fórmula Indy e com Sylvester Stallone e Burt Reynolds no elenco), em que as
batidas são mostradas como um espetáculo pirotécnico, Rush mostra os acidentes como a parte ruim do automobilismo. A morte de um piloto e a fratura exposta na
perna de outro aparecem como freio para irresponsabilidade dos competidores.
As reuniões pré-corrida mostram a
cautela de Lauda e depois Hunt quanto aos riscos num carro que era uma bomba,
como eles mesmos descrevem e como Lauda sentiu na pele ao sofrer o acidente que
quase o matou em Nurburgring.
O tratamento médico e a recuperação de Niki o transformam
rapidamente no mocinho, mas o “exemplo de superação” perde a graça quando o
austríaco volta a correr só por teimosia, para não deixar Hunt ser campeão e
continua sendo arrogante. Nada daquelas histórias de passar por uma experiência
traumática a voltar como um anjinho.
Já Hunt é o cara confiante, desregrado. Finge não dar
atenção às pressões, mas num tique nervoso não para de mexer em um isqueiro e
bebe compulsivamente.
Saindo das histórias e falando das imagens, Rush mostra com
perfeição um grid de largada completo. Há efeitos especiais, é claro, mas para
recriar a temporada de 1976 pode contar aí que pelo menos 20 carros correm de
verdade nas tomadas (graças, em parte, a colecionadores que ainda guardam
bólidos da época para festivais e exposições). Um figurante de luxo é a Tyrrel
de seis rodas.
Infelizmente é um filme caríssimo. Por isso, dificilmente as
produtoras lançarão filmes de automobilismo a rodo. Mas, convenhamos, as
rivalidades Fittipaldi x Stewart, Prost x Senna, Piquet x Lauda e Schumacher x
Hakkinen dariam ótimos roteiros.
A parte chata para os brasileiros é que mesmo se tratando de
um bicampeão respeitadíssimo na época retratada, Fittipaldi só é citado em meio
a xingamentos por um dirigente da McLaren, indignado com o fato de Émerson ter
trocado um dos melhores carros do grid para se aventurar na criação da equipe
Coopersucar.
Como disse Alessandra Alves, comentarista de Formula-1 da
Rádio Bandeirantes, “Rush” é um triângulo amoroso entre Lauda, Hunt e a
vitória.
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