quinta-feira, 19 de setembro de 2013

'Rush'


Rush foge daquela mesmice hollywoodiana de criar heróis e vilões ao reproduzir uma história real ligada ao esporte. Niki Lauda e James Hunt são apresentados como dois obstinados pela vitória e como dois chatos. Uma rivalidade que ajuda a contar uma ótima história.

Hunt não se prepara para a corrida, toma porres na véspera, consome drogas e coleciona amantes. Lauda é o cara de família, perfeccionista e racional, que não faz questão de ser simpático com ninguém. E adora dizer que é o melhor do que todos.

Diferentemente do filme Alta Velocidade (de 2001, sobre Fórmula Indy e com Sylvester Stallone e Burt Reynolds no elenco), em que as batidas são mostradas como um espetáculo pirotécnico, Rush mostra os acidentes como a parte ruim do automobilismo. A morte de um piloto e a fratura exposta na perna de outro aparecem como freio para irresponsabilidade dos competidores.

As reuniões pré-corrida mostram a cautela de Lauda e depois Hunt quanto aos riscos num carro que era uma bomba, como eles mesmos descrevem e como Lauda sentiu na pele ao sofrer o acidente que quase o matou em Nurburgring.  

O tratamento médico e a recuperação de Niki o transformam rapidamente no mocinho, mas o “exemplo de superação” perde a graça quando o austríaco volta a correr só por teimosia, para não deixar Hunt ser campeão e continua sendo arrogante. Nada daquelas histórias de passar por uma experiência traumática a voltar como um anjinho.

Já Hunt é o cara confiante, desregrado. Finge não dar atenção às pressões, mas num tique nervoso não para de mexer em um isqueiro e bebe compulsivamente.

Saindo das histórias e falando das imagens, Rush mostra com perfeição um grid de largada completo. Há efeitos especiais, é claro, mas para recriar a temporada de 1976 pode contar aí que pelo menos 20 carros correm de verdade nas tomadas (graças, em parte, a colecionadores que ainda guardam bólidos da época para festivais e exposições). Um figurante de luxo é a Tyrrel de seis rodas.

Infelizmente é um filme caríssimo. Por isso, dificilmente as produtoras lançarão filmes de automobilismo a rodo. Mas, convenhamos, as rivalidades Fittipaldi x Stewart, Prost x Senna, Piquet x Lauda e Schumacher x Hakkinen dariam ótimos roteiros.

A parte chata para os brasileiros é que mesmo se tratando de um bicampeão respeitadíssimo na época retratada, Fittipaldi só é citado em meio a xingamentos por um dirigente da McLaren, indignado com o fato de Émerson ter trocado um dos melhores carros do grid para se aventurar na criação da equipe Coopersucar.


Como disse Alessandra Alves, comentarista de Formula-1 da Rádio Bandeirantes, “Rush” é um triângulo amoroso entre Lauda, Hunt e a vitória. 

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