quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Uma Tropa do Barulho

O filme Tropa de Elite 2 não é exatamente a continuação do filme Tropa de Elite. É na verdade uma desconstrução do primeiro filme: Capitão Nascimento, agora Coronel e sub-secretário percebe que tudo o que havia feito - entrar em favela matando traficantes - era manter o "Sistema" (no sotaque do personagem, sissstema) que ele tanto incriminava.

No primeiro filme, há um maniqueísmo entre o policial honesto linha-dura no lado do bem e o traficante desalmado e policiais corruptos ou no mínimo negligentes no lado do mal. Agora, Coronel Nascimento percebe que não deveria lutar contra traficantes, nem contra usuários de drogas que sustentam traficantes. O problema vem de cima.

No primeiro filme há uma série de bordões jogados para o espectador. No segundo há uma série de detalhes de uma trama muito mais grave que um tiroteio ou uma invasão numa favela.

Em Tropa de Elite 2, o protagonista entra para o "Sistema" para tentar combatê-lo por dentro. Inicialmente percebe que aos poucos estava se entregando ao "Sistema", depois percebe que sempre fez parte dele. Que sempre fizemos parte dele. Matando traficante, o Capitão Nascimento não encostava em nenhum um fio de cabelo dos políticos que favoreciam o tráfico.

Tropa de Elite 2 é uma aula de ética sem citar qualquer teórico. Além disso, é uma aula de jornalismo: um dos vilões é apresentador de um daqueles famigerados programas policiais do tipo "espreme que sai sangue" que tem na televisão. Parece até uma referência ao apresentador Wallace Souza, de Amazonas, que encomendava mortes para poder exibir os corpos na TV. Outra personagem-chave é uma jornalista que vai até fundo nas investigações do tráfico aliado à política.

Aliás, política é o principal assunto do filme. "Em ano de eleição..." é a frase mais repetida pelo Subsecretário Nascimento. Tudo gira em torno de eleição. Além disso, a parte mais genial do filme é o fim da eterna dicotomia esquerda-direita. O protagonista começa ridicularizando os "intelectuais de esquerda", depois passa a depender deles. Do mesmo modo, o professor de história que casa com a ex-mulher de Nascimento começa desprezando as idéias de "bandido bom é bandido morto" do capitão do Bope, mas acaba precisando dele para instalar uma CPI. Os dois percebem que tinham os mesmo objetivos mas falavam línguas diferentes.

Na verdade, o filme rechaça o "Sistema" fazendo parte do "Sistema" - o que dizer de um filme popular cheio de patrocinadores? Cheio de telespectadores? Que em breve passará na TV Globo? Mesmo assim, o filme é o ataque perfeito ao "Sistema".

Ah, e diga-se de passagem, a escolha da música "O Calibre" dos Paralamas do Sucesso para fechar o filme foi genial.

Bom, e se Tropa de Elite virou filme da Sessão da Tarde, fica a sugestão de títulos: "Uma Tropa do Barulho" "Um Capitão da Pesada" ou até "As Aventuras de Capitão Nascimento"

Nenhum comentário: