quinta-feira, 20 de março de 2014

Isso é mais ou menos Esparta

Uma mistura de resenha do filme 300 – A Ascensão do Império, chatice com a precisão histórica e vontade de escrever mesmo. Isso aqui não é um texto de um historiador, nem um artigo. Só um texto porque deu vontade de falar do filme.

A sequência de 300 é um filme bacana. Para por aí. É que o primeiro filme era mais intenso, diferente do que era normal no cinema. Vai ficar sempre à sombra. Na verdade, a parte dois é uma série um pouco confusa de batalhas navalhas, com muitos exageros, dos típicos do cinema norte-americano aos que extrapolam até mesmo o razoável hollywoodiano. Mesmo assim, vale a pena.

O filme que estreou agora conta o antes-durante-depois do enredo de 300. Isso mesmo. Mostra quando os gregos ficam sabendo que trezentas pessoas vão enfrentar o exército persa em Termópilas; a expectativa para saber no que deu a guerra na época que não tinha rádio nem internet; e o que acontece depois da derrota espartana (isso não é exatamente contar o fim do primeiro filme, era só prestar atenção na aula de história).

Assim como o primeiro filme, há imprecisões históricas – vamos a elas, já que mostrar o que está errado é uma paixão nacional.

É bom lembrar que todo filme reflete um pouco da atualidade. Os helenos são em boa parte a base da civilização ocidental (filosofia, ciência, política). Os persas, inimigos, invasores cruéis e sem coração, viviam no atual Oriente Médio, deram origem ao povo iraniano. Temos aí uma rixa Estados Unidos x Irã cinco séculos antes de Cristo.

Ah, helenos não tem nada a ver com Manoel Carlos. É que Grécia em grego é Hellas. Dá uma olhada no álbum de figurinhas da Copa do Mundo.

No filme, gregos dizem o tempo todo que estão defendendo a liberdade e a democracia. Seria lindo. Mas nem todas as cidades-estados tinham o sistema democrático. Esparta por exemplo era uma diarquia (isso mesmo dois reis). Além disso, nas democracias todos os gregos eram livres. Menos os escravos. Esses eram maioria na sociedade... mas o filme sequer cita a existência de servos em Atenas ou Esparta.
Mais uma: naquela época, o homossexualismo era comum entre os gregos. Principalmente entre os espartanos. O filme não cita isso em momento algum.

Xerxes não era careca
Os personagem principais do filme realmente existiram. Só que Xerxes não era exatamente aquele imperador-ostentação representado por Rodrigo Santoro (dublado de voz grossa, mais uma vez). Era um barbudo que caiu em desgosto depois de perder de goleada a guerra mais fácil da Idade Antiga.

No filme, quem lidera o exército inimigo é Artemísia. Vendo o filme acreditei que era uma licença poética. Achei impossível para aquela época uma mulher comandar uma tropa, mas apesar do machismo da Antiguidade, a personagem existiu mesmo! Foi uma grega que lutou contra os gregos e liderou alguns navios persas na batalha de Salamina.

O protagonista é o ateniense Temístocles, general que uniu o povo grego contra os persas e que traçou estratégias criativas para derrotar uma frota maior que a helena. Bacana, mas o filme não mostra o que aconteceu depois. Ele encheu a paciência dos conterrâneos até ser condenado ao ostracismo, uma espécie de “não me apareça mais por aqui”. Foi refugiar-se sabe onde? Sim, foi para o lado persa, mas aí são outros trezentos.

Grécia 2 x 1 Pérsia
Enfim, a batalha aconteceu. Persas venceram nas Termópilas, mas levaram a virada em Salamina, mesmo tendo um exército bem superior. Não vou me ater em números, porque se até hoje é complicado confiar em números de manifestantes em protestos, imagine em uma guerra que foi há 2.500 anos! Enfim, o fato é que vitória grega nessa batalha foi uma zebra maior do que a seleção da Grécia levar o caneco da Eurocopa 2004. (Ainda me pergunto se isso aconteceu mesmo).

A vitória grega nessa batalha do filme fez com que Atenas e Esparta se tornassem duas cidades imperialistas. Cresceram a ponto de se estranharem, caíram em violentas guerras uma contra a outra, enfraqueceram-se e viraram presa fácil para o Império Macedônico. Mas aí é já é outro filme, Alexandre (o Grande).


Fontes?

Bom, a ideia era não ser uma dissertação, mas este texto se baseia na leitura de algumas edições de Galileu, Super Interessante e Aventuras na História, um livro aqui, outro ali, consultas preguiçosas no Wikipédia (sim, eu acesso mesmo) e algumas lembranças das divertidas aulas de História do Ricardo, no cursinho. 

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