Uma mistura de resenha do filme 300 – A Ascensão do Império,
chatice com a precisão histórica e vontade de escrever mesmo. Isso aqui não é
um texto de um historiador, nem um artigo. Só um texto porque deu vontade de
falar do filme.
A sequência de 300 é um filme bacana. Para por aí. É que o
primeiro filme era mais intenso, diferente do que era normal no cinema. Vai
ficar sempre à sombra. Na verdade, a parte dois é uma série um pouco confusa de
batalhas navalhas, com muitos exageros, dos típicos do cinema norte-americano aos
que extrapolam até mesmo o razoável hollywoodiano. Mesmo assim, vale a pena.
O filme que estreou agora conta o antes-durante-depois do
enredo de 300. Isso mesmo. Mostra quando os gregos ficam sabendo que trezentas
pessoas vão enfrentar o exército persa em Termópilas; a expectativa para saber
no que deu a guerra na época que não tinha rádio nem internet; e o que acontece
depois da derrota espartana (isso não é exatamente contar o fim do primeiro
filme, era só prestar atenção na aula de história).
Assim como o primeiro filme, há imprecisões históricas –
vamos a elas, já que mostrar o que está errado é uma paixão nacional.
É bom lembrar que todo filme reflete um pouco da atualidade.
Os helenos são em boa parte a base da civilização ocidental (filosofia,
ciência, política). Os persas, inimigos, invasores cruéis e sem coração, viviam
no atual Oriente Médio, deram origem ao povo iraniano. Temos aí uma rixa
Estados Unidos x Irã cinco séculos antes de Cristo.
Ah, helenos não tem nada a ver com Manoel Carlos. É que Grécia
em grego é Hellas. Dá uma olhada no álbum de figurinhas da Copa do Mundo.
No filme, gregos dizem o tempo todo que estão defendendo a
liberdade e a democracia. Seria lindo. Mas nem todas as cidades-estados tinham
o sistema democrático. Esparta por exemplo era uma diarquia (isso mesmo dois
reis). Além disso, nas democracias todos os gregos eram livres. Menos os
escravos. Esses eram maioria na sociedade... mas o filme sequer cita a
existência de servos em Atenas ou Esparta.
Mais uma: naquela época, o homossexualismo era comum entre
os gregos. Principalmente entre os espartanos. O filme não cita isso em momento
algum.
Xerxes não era careca |
Os personagem principais do filme realmente existiram. Só
que Xerxes não era exatamente aquele imperador-ostentação representado por
Rodrigo Santoro (dublado de voz grossa, mais uma vez). Era um barbudo que caiu
em desgosto depois de perder de goleada a guerra mais fácil da Idade Antiga.
No filme, quem lidera o exército inimigo é Artemísia. Vendo
o filme acreditei que era uma licença poética. Achei impossível para aquela
época uma mulher comandar uma tropa, mas apesar do machismo da Antiguidade, a
personagem existiu mesmo! Foi uma grega que lutou contra os gregos e liderou
alguns navios persas na batalha de Salamina.
O protagonista é o ateniense Temístocles, general que uniu o
povo grego contra os persas e que traçou estratégias criativas para derrotar
uma frota maior que a helena. Bacana, mas o filme não mostra o que aconteceu
depois. Ele encheu a paciência dos conterrâneos até ser condenado ao ostracismo,
uma espécie de “não me apareça mais por aqui”. Foi refugiar-se sabe onde? Sim, foi
para o lado persa, mas aí são outros trezentos.
Grécia 2 x 1 Pérsia |
Enfim, a batalha aconteceu. Persas venceram nas Termópilas,
mas levaram a virada em Salamina, mesmo tendo um exército bem superior. Não vou
me ater em números, porque se até hoje é complicado confiar em números de
manifestantes em protestos, imagine em uma guerra que foi há 2.500 anos! Enfim,
o fato é que vitória grega nessa batalha foi uma zebra maior do que a seleção da
Grécia levar o caneco da Eurocopa 2004. (Ainda me pergunto se isso aconteceu
mesmo).
A vitória grega nessa batalha do filme fez com que Atenas e
Esparta se tornassem duas cidades imperialistas. Cresceram a ponto de se
estranharem, caíram em violentas guerras uma contra a outra, enfraqueceram-se e
viraram presa fácil para o Império Macedônico. Mas aí é já é outro filme,
Alexandre (o Grande).
Fontes?
Bom, a ideia era não ser uma dissertação, mas este texto se
baseia na leitura de algumas edições de Galileu, Super Interessante e Aventuras
na História, um livro aqui, outro ali, consultas preguiçosas no Wikipédia (sim,
eu acesso mesmo) e algumas lembranças das divertidas aulas de História do
Ricardo, no cursinho.
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