quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Apartheid estudantil

Na cidade de Bauru, localizada no centro do Estado de São Paulo, é cada vez mais comum a proibição do aluguel de apartamentos para estudantes. Fora isso, vários proprietários de casas se recusam a alugar imóveis a universitários.

Vamos começar de maneira radical: proibir estudantes em apartamento é o mesmo que proibir negros, pobres. Ou seja: puro preconceito.

Escutei um cidadão dizendo: "Não é preconceito. É uma situação que eles mesmos criam, fazendo baderna. Só quem mora ao lado de república sabe como é".

Não é preconceito dizer que: estudante = baderna?

Não estou dizendo que estudante não exagera. Alguns exageram sim. Fazem barulho, festas até o início da manhã seguinte. Mas se fazem isso, estão quebrando a lei do silêncio pós 22h. Daí baixa polícia na frente da casa e tudo mais.

E quanto aos apartamentos? Estudantes fazem barulho. Sim, alguns fazem. Mas se o condomínio pode colocar multas (no meu prédio a multa é de R$ 500 reais!!!) o barulho diminui. Do mesmo jeito muitos não-estudantes fazem barulhos e aprontam as suas nos condomínios. Eles só não são etiquetáveis.

Uma coisa é repreender e punir quem comete excessos. Outra coisa é simplesmente proibir alguém de entrar ou morar em um lugar porque outros da "mesma classe" (falam de classe de estudantes fosse uma coisa homogênea) fizeram bagunça.

Quem procura um lugar para morar, ao saber das regras daquele local, fica ciente do que pode ou não fazer. Mostrar o que pode ou não pode é completamente diferente de (e muito mais difícil que) proibir todos que um dia talvez, quem sabe, numa hipótese, possam vir a infringir a regra.

É a punição a quem não fez nada errado.

E mesmo quem exagera é tratado de maneira extremamente preconceituosa, como se aquele "pai de família" (e nem dá pra sabem o quão 'pai de família' que diz isso realmente é) nunca tivesse sido jovem, aprontado as suas. Como se nunca tivesse ido numa festa, ou como se no fundo, não estivesse com enorme inveja de poder trocar aquele terno por uma roupa casual e entrar na festa do "vizinho bagunceiro".


**************
Aliás, em Bauru começou um apelo pela recontagem da população no Censo do IBGE. Falam em 400 mil, mas o Instituto apontou 335 mil. Os bauruenses retrucam: "mas Bauru é uma cidade universitária, tem 9 faculdades... os estudantes foram contados em outras cidades".

Na hora de inflar estatísticas lembram dos universitários.

Às vezes não dá vontade de ser contado como habitante da cidade.

Nenhum comentário: