quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Democracia, o que que é mesmo?

A liberdade de comprar e vender, e a liberdade de votar e se expressar formam uma conhecida dupla das últimas décadas: capitalismo & democracia

Mas esse dueto pode se tratar de pura ficção. Um ótimo exemplo do caso se dá no Oriente Médio. Como? Estados Unidos apoiando Egito, Brasil apoiando Irã... Vejamos porque! [hehe, tentei ser o mais didático possível]:

Comecemos pela lógica capitalista. Produzir para vender, vender para investir, investir para produzir melhor, e assim vender mais. Dentro do liberalismo então, temos a liberdade de escolher em que investir, deixar a mão do Mercado controlar tudo. 

Agora vamos à lógica da democracia: todo mundo participa da decisão política, que por definição deve primar pelo bem do indivíduo e, porque não, da pátria. Bom, acredito que defender o bem da pátria dificilmente implique em justificar o “mau da pátria alheia” e vários tratados internacionais e a Declaração Universal dos Direitos Humanos me dão essa certeza. Democracia presume o bem de todos, logo está alinhada a direitos humanos, e não seria estúpido pensar que o direito que é bom pra mim, é bom para o outro.

Além disso, a alma da democracia é se espalhar mundo a fora para o “bem da civilização”. Até aí, está maravilhoso.

Aí entra o lado incoerente dessa suposta dupla dinâmica. 

O fato é que no Mercado capitalista [liberal, também] é preciso vender para alguém. Quem? Se vira. Vende-se para o mercado interno, para um vizinho aqui, outro ali, vem a globalização, e pronto! Vende-se para o mundo todo. Ok. Nada contra.

Aí surge o Mercado global... Só que também existem os interesses de cada um, de cada país, de cada região, cada empresa. E para cada um deles, é importante vender mais. E para quem? Como eu já disse, se vira! Ai vende-se para todos os países. 

Em nome da integração mundial, para o bem da democracia, vende-se [fecha-se acordos de quaisquer tipo, também] para países em todos os cantos. Inclusive quais? Ah sim, os não democráticos. Por exemplo? Irã, Venezuela, Arábia Saudita, Bahrein, Líbia e muitos outros, e como acontecia até agora pouco, Tunísia e Egito.

E não vá tocar no assunto democracia alheia, heim! Ideologia, ideologia, negócios a parte! Aí é foto de Obama com Mubarak, Lula com Ahmadinejad e tudo mais.

Tem também o caminho contrário do capitalismo... além de vender, tem que comprar! E de quem comprar? Do preço mais democrático parece que não é. Então corre comprar da China, e trate de esquecer a democracia. É a cultura deles e a nossa. Para que correr o risco de misturar?

Agora tratam a China como o grande vilão da atualidade, sustentando uma ditadura socialista internamente e atacando de capitalismo maluco externamente. Isso depois de décadas comprando e vendendo adoidado do país da muralha.

Aí quando no país dos outros se fala em democracia, povo nas ruas pedindo a queda de um líder, surge ele de novo: o Mercado! Cuidado na Líbia! Igualzinho ao Iraque! Tem petróleo lá, meu Deus! Afeganistão e o gasoduto, países africanos e os diamantes, e quem aqui quer arcar com os desmandos do Mercado? 


Na dúvida, continue apoiando o regime alheio. Vai que o preço sobe demais. Vai que minha indústria venda menos e na outra eleição eu não seja eleito. Ah é, eleição, democracia. Que é isso mesmo?

Parece que até agora o capitalismo liberal apoiou a democracia da porta pra dentro. Será que as revoltas no mundo árabe vão mudar esse quadro?

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