quinta-feira, 21 de abril de 2011

Evangelho Segundo Saramago

José Saramago reescreveu a história de Jesus de uma forma única, polêmica e genial em O Evangelho Segundo Jesus Cristo. Além do seu próprio estilo de escrita – sempre irônico e minucioso – criou uma nova história da vida do Messias do catolicismo adaptada a ideias diferentes daqueles dogmas das igrejas cristãs. Além do mais, não podemos nos esquecer que o escritor era ateu, e em consequência das reações ao teor crítico de seu livro, Saramago deixou Portugual para viver nas Ilhas Canárias.. Enfim, material puro para filosofar.  


No evangelho de Saramago (que aliás, é escrito em terceira pessoa), José é um jovem inseguro e pai inexperiente que pouco valor dedica à Maria. Ela nem se atreve a falar mais do que o necessário, tendo em vista a dura repressão à mulheres. O livro também trata de um trauma do pai de Jesus: apesar de ter salvo o filho do massacre de crianças em Belém, José vive com o remorso das outras 25 crianças do vilarejo que não foram salvas, tendo pesadelos todas as noites. Outro fato peculiar na obra, é que José acaba morrendo na cruz, confundido com um rebelde. 
Jesus (descrito com características humanas) se revolta ao saber que o pai seria responsável pela morte de tantas crianças e foge de casa. Acaba, inclusive, herdando o pesadelo do pai. Depois de discutir com Maria, vai viver com um pastor, que mais tarde descobriria ser o próprio Diabo. 


Na história, Jesus tem vários atritos com Maria e seus irmãos e praticamente se casa com Maria Madalena. 


O escritor português narra com maestria os costumes da época, os milagres de Jesus e seu contato com os apóstolos. Judas não aparece como traidor, mas o único dos apóstolos disposto a obedecer à orientação de Jesus (que queria ser entregue aos romanos).


Um dos momentos mais marcantes do livro é a conversa entre Jesus e Deus. Enquanto este  último é descrito como um deus romano, preocupado em conquistar o poder sobre outros deuses criando uma religião mundial, o primeiro é retratado como um revoltado que não admite que seu Criador esteja gerando guerras e mais guerras por esse motivo. A certa altura, Jesus pede para saber como seus apóstolos e seguidores morreriam e Deus lista todas as vítimas e flagelos da nova fé que nasceria.  Mesmo assim, Cristo dá continuidade a sua missão na Terra. 


Por fim, o trecho final do livro (que não cita a ressurreição), vem o desfecho arrebatador. Na cruz, o protagonista perde a paciência com seu Pai e grita “Homens, perdoem-no. Ele não sabe o que faz”.


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Em tempo... parece que eu contei o fim do livro. Mas o que importa é o livro inteiro, as diversas mensagens e reflexões nele contidas!

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